Em entrevista exclusiva concedida à Televisão Pública de Angola (TPA) no dia 9 de Junho de 2025, no Palácio Presidencial, em Luanda, o Presidente da República, João Lourenço, abordou temas cruciais para o país, incluindo o diálogo com a oposição, o pacote legislativo eleitoral, os 50 anos de Independência Nacional e os desafios de Angola como presidente pro tempore da União Africana. Com uma abordagem franca e directa, o Chefe de Estado destacou a importância da democracia, da transparência eleitoral e do legado de cinco décadas de soberania. A seguir, apresentamos os principais pontos da entrevista, editados para o formato jornalístico, mantendo a essência e a originalidade do conteúdo, em conformidade com os padrões éticos e a Lei de Imprensa Angolana.
Diálogo com a Oposição: Um Exercício de Democracia
O Presidente João Lourenço iniciou a entrevista comentando o recente encontro com o líder da UNITA, Adalberto Costa Júnior, principal partido da oposição. Segundo o Presidente, o diálogo com líderes da oposição é uma prática normal em qualquer democracia, embora tenha destacado que o último encontro directo com o líder da UNITA ocorreu após um longo período sem audiências, por razões não especificadas. “Tão logo recebemos o pedido de audiência, prontamente concedemos. Abordámos questões políticas e económicas do país”, afirmou.
Questionado sobre a necessidade de encontros mais regulares, Lourenço enfatizou que está aberto ao diálogo, desde que justificado por assuntos relevantes. Contudo, rejeitou a ideia de que o diálogo seja uma solução para tensões políticas criadas artificialmente. “Não é provocar a tensão e depois vir correndo ao Palácio conversar com o Presidente. A solução é trabalharmos todos dentro da lei, no sentido de afastar a tensão política”, declarou, reforçando o compromisso com a Constituição e a legalidade.
Pacote Legislativo Eleitoral: Transparência e Confiança
Um dos temas centrais da entrevista foi o pacote legislativo eleitoral, que visa reformar as leis para as eleições de 2027. O Presidente sublinhou que o objectivo é reduzir suspeições que frequentemente acompanham os processos eleitorais em África. “O grande objectivo é criar um quadro jurídico que afaste a possibilidade de o concorrente que não ganhar pensar que houve fraude”, afirmou.
Lourenço destacou que tanto o Executivo como a oposição apresentaram propostas na Assembleia Nacional, e defendeu que ambas sejam discutidas de forma equitativa. “É preciso que o diálogo aconteça na Assembleia Nacional, não na Comunicação Social, fazendo campanhas de denegrimento apenas em relação a uma das propostas”, criticou, rejeitando acusações de que as novas regras favorecem o partido no poder. Para o Presidente, a imparcialidade será garantida pela participação de todos os actores políticos e da sociedade civil na aprovação e implementação das leis.
50 Anos de Independência: Legado e Desafios
Ao abordar os 50 anos de Independência Nacional, a serem celebrados em Novembro de 2025, João Lourenço destacou a preservação da soberania e a consolidação da paz como conquistas fundamentais. “Apesar de duas invasões externas e um conflito de 27 anos, os angolanos souberam preservar a Independência e a soberania, construir a paz e a reconciliação”, afirmou.
O Presidente mencionou avanços económicos, como a taxa de crescimento de 3,5% (4,5% na economia não petrolífera), a redução do rácio da dívida em relação ao PIB (de mais de 100% para 63%) e a diversificação económica. Para as comemorações, uma comissão organizadora foi criada para garantir a inclusão de todos os angolanos. “Todos são convidados a serem partícipes, tal como foram na construção da Angola Independente”, disse, destacando as condecorações a cidadãos de diversas áreas como um reconhecimento do contributo colectivo.
Luta Contra a Corrupção e Recuperação de Activos
Na luta contra a corrupção, Lourenço fez um balanço positivo, mas reconheceu que o trabalho está longe de concluído. “Temos conseguido recuperar activos físicos e financeiros, mas há muito mais por recuperar”, afirmou. Entre os exemplos citados estão a recuperação de dois mil milhões de dólares do Fundo Soberano, utilizados no Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM), e activos como o Hotel Intercontinental e o edifício do Ministério dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás.
O Presidente criticou a resistência de alguns países estrangeiros em devolver activos ilícitos, apesar de sentenças judiciais angolanas. “É inaceitável que se ponha em causa a idoneidade das sentenças dos nossos tribunais”, declarou, reforçando a soberania judicial de Angola.
Angola na União Africana: Paz, Segurança e Desenvolvimento
Como presidente pro tempore da União Africana, João Lourenço apontou a paz e a segurança como prioridades, destacando conflitos em regiões como o Sahel, os Grandes Lagos e Cabo Delgado. “Sem paz e segurança, não se pode falar de desenvolvimento”, afirmou. O Presidente defendeu soluções africanas para os problemas do continente, criticando a dependência de intervenções externas que, muitas vezes, não produzem resultados.
No plano económico, Lourenço enfatizou a necessidade de investimentos em infra-estruturas, especialmente energia, para impulsionar a industrialização de África. O Corredor do Lobito, que conecta os portos do Lobito e de Dar Es Salaam, foi citado como exemplo de projecto estratégico que atrai interesse internacional.
MPLA e o Futuro Político
Sobre as dinâmicas internas do MPLA, o Presidente desmentiu especulações sobre o apoio a possíveis candidatos à liderança do partido. Referindo-se a uma audiência com o militante Higino Carneiro, Lourenço esclareceu que se tratou de uma conversa normal, sem qualquer “luz verde” para candidaturas. “O MPLA tem regras e democracia interna. Ninguém está predestinado a ser Presidente da República”, afirmou, rejeitando a ideia de favoritismos.
“O Povo é o Meu Patrão”
Encerrando a entrevista, João Lourenço reiterou que sua missão é servir o povo angolano. “Quando o povo me colocou nesta cadeira, deu-me a missão de resolver os seus problemas”, disse. Entre os desafios futuros, destacou a construção de mais infra-estruturas, a melhoria da educação, saúde e oferta de bens essenciais, apelando à colaboração do sector privado para atender às crescentes necessidades da população.