Quatro dos 20 bancos do sistema financeiro angolano tiveram as suas demonstrações financeiras referentes ao exercício de 2024 aprovadas com reservas pelos auditores independentes, segundo os Relatórios e Contas (R&C) recentemente divulgados. Esta qualificação, embora não invalide os documentos contábeis, aponta para divergências relevantes na fiabilidade das informações apresentadas, levantando preocupações sobre a saúde financeira de algumas instituições.

Banco Sol em situação crítica

O Banco Sol destaca-se como o caso mais preocupante. O auditor externo, a Ernst & Young (E&Y), identificou uma “incerteza material relacionada com a continuidade” da instituição. Após a troca de auditor, o banco passou de duas para 11 reservas, um aumento significativo que expõe fragilidades na sua governação financeira. A E&Y apontou que o Banco Sol apresentou demonstrações financeiras apenas da sua actividade individual, sem incluir as demonstrações consolidadas, violando as Normas Internacionais de Relato Financeiro (IFRS).

Além disso, o auditor destacou que o Plano de Recapitalização e Reestruturação (PRR) em curso é crucial para a continuidade do banco. “Estas circunstâncias indicam uma incerteza material que pode colocar dúvidas significativas sobre a capacidade do Banco Sol em manter-se operacional. A continuidade depende do sucesso do PRR, do apoio dos accionistas e de futuras operações lucrativas”, refere o parecer.

BNI e BPC também sob escrutínio

O Banco de Negócios Internacionais (BNI) enfrenta desafios semelhantes, acumulando oito anos consecutivos (2017-2024) de pareceres com reservas. O auditor questionou a imparidade registada na participação financeira do BNI Europa, classificada como “activos não correntes detidos para venda”, com valores de 18,99 mil milhões de AOA em 2024 e 33,74 mil milhões de AOA em 2023. Apesar de uma oferta para a venda do BNI Europa estar em negociação, a suficiência da imparidade reconhecida permanece incerta.

Já o Banco de Poupança e Crédito (BPC), detido pelo Estado e o sexto maior banco em activos, também enfrenta problemas. Pelo segundo ano consecutivo (2023-2024), as suas contas foram aprovadas com reservas. Mais preocupante é a ausência de pareceres fundamentais no Relatório e Contas de 2022, tanto do auditor externo (E&Y) como do Conselho Fiscal, o que compromete a credibilidade dos resultados apresentados.

Banco Yetu com reserva pontual

O Banco Yetu, do segmento não sistémico, teve as suas contas aprovadas com uma única reserva. O auditor questionou o saldo da rubrica “Crédito a clientes”, no valor de 14,67 mil milhões de AOA, devido à falta de evidências financeiras actualizadas, reforços de garantias ou reavaliação das mesmas.

Concentração de irregularidades em bancos sistémicos

Os dados revelam que 75% das opiniões com reservas concentram-se nas Instituições Financeiras Bancárias de Importância Sistémica Doméstica (D-SIBs). Esta concentração de “irregularidades formais” em bancos de grande dimensão preocupa reguladores e investidores, dado o impacto potencial no sistema financeiro nacional.

Apelo à transparência

Rogério Ngombo, especialista em Finanças e Controladoria, alerta para a gravidade da situação. “Embora pareceres com reservas possam reflectir questões técnicas, a sua repetição em instituições sistémicas sugere a necessidade de maior escrutínio. Num sector tão sensível como o bancário, é essencial monitorizar estes pontos para preservar a confiança dos investidores, reguladores e outros stakeholders, garantindo a solidez do sistema financeiro”, afirmou.

As reservas apontadas nos Relatórios e Contas de 2024 reforçam a necessidade de maior rigor na governação financeira das instituições bancárias angolanas. O Banco Sol, BNI, BPC e Banco Yetu enfrentam desafios que exigem respostas rápidas e eficazes para assegurar a estabilidade do sector.

Fonte: O Telegrama

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