O terceiro mandato do Presidente da República, João Lourenço, contrariamente aos estatutos do partido, é um não assunto, pois não consta na agenda política 2024 do MPLA, apresentada publicamente no dia 3 de Fevereiro. As palavras são de Esteves Hilário, secretário do Bureau Político para a Informação dos ‘camaradas’.
Esteves Hilário, que falava sexta-feira durante o matabicho oferecido aos jornalistas e fazedores de opinião, entende que esta discussão é extemporânea e é para ser feita num futuro próximo.
“Eu compreendo a ansiedade dos jornalistas e da sociedade, mas é um assunto que pode ser
abordado em 2026, durante o congresso ordinário do partido”, afirmou o político.
Ante a insistência dos jornalistas, se haveria esta pretensão, o político adiantou que este assunto nunca esteve em pauta. “Nós tivemos uma revisão ordinária feita em 2021, quando o MPLA tinha uma maioria qualificada, de dois terços, e não se tratou deste assunto e tudo isto não passa de pura especulação”, clarificou. Reiterando que o MPLA sempre respeitou a Constituição que aprovou com o voto maioritário, a bússola orientadora da nossa vida nacional.
“Não há qualquer intenção do MPLA, nem dos seus dirigentes e muito menos do seu líder, um exímio respeitador do texto Constitucional da República, em alterar ou desrespeitar a carta magna”, repetiu.
Sobre uma possível crise no seio dos camaradas, Esteves Hilário refutou, dizendo que o MPLA não tem nenhuma crise política, mas sim desafios próprios do momento que o país atravessa, decorrentes da realidade e preocupações do Executivo liderado pelo Presidente João Lourenço, numa acção que está
a ser levada a cabo e que levará às novas gerações a ter um país melhor, fruto das reformas em curso.
Reacções
Para o jornalista Alves Fernandes (AF), da Rádio MFM, a iniciativa tardou, mas chegou. “Eu costumo dizer que o MPLA mesmo quando faz bem comunica mal”, afirmou o profissional para quem Esteves Hilário está nesta função há alguns meses, e pela primeira vez está num ‘tete a tete’ informal e abrangente com a imprensa, o que é muito bom.
AF valorizou a iniciativa do partido ao clarificar “algumas coisas importantes”, porque especula-se muito, por exemplo, a cerca de um eventual terceiro mandato do Presidente João Lourenço, numa interpretação errónea dos estatutos que foram esclarecidos.
Quanto à hipotética queda de popularidade do PR, uma questão também colocada à mesa, Esteves Hilário negou esta realidade.
Por sua vez, o docente e analista político Albino Paquissa considerou a iniciativa de “muito boa”, pois, “há muito tempo que não se assistia uma iniciativa desta natureza”.
Para Paquissa, o partido que suporta o Governo se não conversa com os jornalistas, assim
como com os fazedores de opinião, não estará a fazer boa coisa. Acrescentou que esta nova dinâmica é salutar, sobretudo para aqueles que como ele são chamados muitas vezes para comentar, a forma para se ter a ideia clara daquilo que se passa no país, “porque recebermos a informação verídica da parte daqueles que conduzem os destinos do país”.
Outro profissional de informação é Francisco Pedro, da RNA que considerou a experiência de “muito positiva”, mas acha que tem de ser assim de forma permanente e não isolada.
“Manter encontro com a classe jornalística, não deve ser apenas hoje, mas sim de forma permanente”, disse, acrescentando o facto de o politico ter sido mandatado para falar em nome do MPLA, está a ajudar a dissipar um conjunto de dúvidas e equívocos que têm estado a pairar em vários meios de comunicação e não só.
Outra voz ouvida por este jornal é de Amélia de Almeida, conhecida por ‘psicóloga africana, para quem “é bem verdade que o slogan comunicar mais é válido e nesta lógica quem deve comunicar mais é quem está a fazer alguma coisa e nós, em psicologia, falamos que o dialogo é libertador e como tal quem fala a
verdade acaba por ganhar duas vezes e esclarece as dúvidas”.
“Nós temos o hábito de estarmos sempre reunidos e sempre inventar hipóteses. Todo o mundo sabe e ninguém sabe nada. Nós queremos liberdade em todas as esferas, pois que pretendemos saber o que os governantes estão a fazer com aquilo que é o bem de todos, que é Angola”, afirmou.
“Aqui eu saio com esta visão. Há dúvidas e precisamos agora de pegar também no material. Não é só nos dizer, mas o certo é estar a falar e estar a fazer”, afirmou Amélia de Almeida, para quem este é um sinal de mudança, ou seja, “convidar todos sem inibir ninguém”. “Quem veio e que não quis não veio e não há nenhum ‘kilapi’ aqui. Isto aqui é democracia, é cidadania, pois que juntos vamos construir Angola”, defendeu Amélia de Almeida. Pungo Andongo