Presidente angolano apresentou visão estratégica da União Africana no Fórum Global Gateway e destacou Corredor do Lobito como projeto transformador.
O Presidente da República de Angola, João Lourenço, na qualidade de Presidente em Exercício da União Africana, defendeu em Bruxelas a necessidade de África acelerar a industrialização e transformar localmente as suas matérias-primas, criando valor acrescentado e emprego para a juventude africana.
O discurso foi proferido durante a segunda edição do Fórum Global Gateway, evento que marca o 25º aniversário da parceria estratégica entre a União Africana e a União Europeia.
Industrialização como prioridade continental
João Lourenço sublinhou que a industrialização é uma meta central para África, essencial para criar empregos dignos, agregar tecnologia aos produtos e reduzir os fluxos migratórios para a Europa causados pela falta de oportunidades.
“Já não nos contentamos com a ideia de sermos apenas uma plataforma de produção e exportação de matérias-primas em bruto”, afirmou o Presidente angolano, defendendo que África deve posicionar-se como parceiro ativo na economia global.
O líder africano destacou que acrescentar valor às matérias-primas africanas aumentaria a competitividade nos mercados internacionais e geraria recursos financeiros para investimento nas economias do continente, numa fase de redinamização marcada pela Zona de Comércio Livre Continental.
Cimeira de Luanda vai mobilizar investimentos em infraestruturas
O Presidente anunciou que Angola acolherá, ainda em outubro, uma Cimeira sobre o Financiamento para o Desenvolvimento das Infraestruturas em África, sob o lema “Capital, Corredores, Comércio: Investir em Infraestruturas para a Zona de Comércio Livre Continental Africana e a Prosperidade Partilhada”.
João Lourenço aproveitou o palco em Bruxelas para mobilizar capital financeiro europeu, tanto através de mecanismos oficiais de apoio ao desenvolvimento como do setor privado, para projetos de portos, caminhos-de-ferro, estradas, aeroportos, barragens hidroelétricas e parques de painéis fotovoltaicos.
Durante a conferência de Luanda, serão apresentadas prioridades de investimento já identificadas no Programa para o Desenvolvimento de Infraestruturas em África (PIDA), com vista a alinhar as necessidades africanas com instrumentos de cooperação como o Global Gateway.
Corredor do Lobito: ligação estratégica entre Atlântico e Índico
Entre os projetos estruturantes destacados pelo Presidente angolano, o Corredor do Lobito recebeu atenção especial pelo seu potencial de desenvolvimento económico e social não apenas para Angola, mas para toda a região da África Austral.
O corredor permitirá a ligação entre o Oceano Atlântico e o Oceano Índico através da conexão com o Corredor da Tazara, encurtando distâncias e reduzindo custos de transporte de bens e pessoas.
“O Corredor do Lobito tem uma importância geopolítica e económica fundamental”, disse João Lourenço, explicando que a infraestrutura vai encurtar rotas marítimas internacionais, favorecer o comércio entre Ásia, África, Europa e América, dinamizar o comércio intra-africano e integrar África nas cadeias globais de valor.
Saúde, educação e transferência tecnológica
O Presidente em Exercício da União Africana destacou ainda a cooperação no setor da saúde, que assumiu prioridade após as vulnerabilidades expostas pela pandemia de COVID-19. A produção local de vacinas e medicamentos em África está a ser apoiada pela União Europeia através da Iniciativa da Equipa Europa.
Na educação, João Lourenço defendeu a formação técnica da juventude africana que representa 60% da população do continente abaixo dos 25 anos – nos próprios países africanos, com suporte de programas europeus.
O líder angolano apelou à criação de parcerias que incluam financiamento adaptado ao risco, transferência tecnológica, apoio à criação de indústrias locais e um multilateralismo mais inclusivo e representativo para abordar o financiamento do desenvolvimento africano de forma equitativa.
Parceria estratégica consolidada
João Lourenço considerou que as relações entre a União Africana e a União Europeia atingiram um momento de maturidade, após 25 anos de percurso comum, num contexto de crescentes tensões geopolíticas internacionais.
O Presidente defendeu que esta parceria deve ser a “força motriz capaz de moldar um futuro partilhado”, baseada em respeito, equidade, sustentabilidade e unidade, e transformar desafios em novas perspetivas num mundo de interdependência.
A cooperação estratégica entre as duas uniões foi reforçada na 3ª Reunião Ministerial União Africana-União Europeia, realizada em maio de 2025, que reconheceu progressos em iniciativas como o Mercado Único Africano de Eletricidade, o Plano Diretor dos Sistemas de Energia Continental e o Programa de Desenvolvimento de Infraestruturas em África.
João Lourenço reafirmou o compromisso da União Africana e de Angola em trabalhar com todos os parceiros para que o Global Gateway se torne “um verdadeiro marco transformador nas relações internacionais, baseado em resultados e orientado para a industrialização de África e para a conectividade global”.