Angola ganha o seu primeiro centro de dados de colocation 100% neutro em termos tecnológicos, com um investimento de 30 milhões de dólares americanos (USD). A multinacional britânica Raxio anuncia a inauguração do projeto Raxio AO1, localizado no município de Cacuaco, em Luanda, no próximo dia 30 de outubro. Esta infraestrutura, certificada Tier III, representa um marco para o setor de tecnologias de informação e comunicação (TIC) no país, oferecendo soluções escaláveis e seguras para empresas que buscam otimizar custos e focar no seu core business.
Um Investimento Estratégico na Era Digital
A construção da primeira fase do data center foi lançada há dois anos e abrange uma área bruta de 18.817 metros quadrados, com a fase inicial ocupando 9.684 metros quadrados. Inicialmente, o centro contará com 100 racks – estruturas semelhantes a prateleiras projetadas para acomodar servidores físicos. Cada rack pode suportar entre 20 a 40 servidores, dependendo da configuração dos equipamentos, o que permite uma capacidade inicial robusta para atender demandas crescentes de armazenamento e processamento de dados.
Este projeto junta-se à rede de data centers da Raxio na África, que já opera em países como Costa do Marfim, República Democrática do Congo, Etiópia, Moçambique, Tanzânia e Uganda. Em Angola, o Raxio AO1 destaca-se pelo modelo de colocation, que oferece espaço físico para hospedar equipamentos de rede e hardware de TI de clientes, sem a necessidade de as empresas construírem suas próprias infraestruturas. Este formato é cada vez mais adotado no setor tecnológico global, pois reduz custos operacionais e simplifica a gestão de ativos digitais.
Neutralidade Tecnológica e Certificação Tier III
O que torna o Raxio AO1 único no mercado angolano é a sua neutralidade tecnológica total. Isso significa que os clientes têm liberdade para escolher o seu provedor de internet, sem imposições do operador do data center. Essa flexibilidade assegura múltiplas opções de conectividade, redundância nas ligações e a possibilidade de migrar serviços sem substituir equipamentos físicos. Combinado com o modelo de colocation, o resultado é uma infraestrutura robusta, com alta disponibilidade e escalabilidade.
Além disso, a certificação Tier III – um padrão internacional reconhecido pela Uptime Institute – garante redundância em componentes essenciais, como energia e refrigeração. Isso permite manutenções sem interrupções no serviço e operação ininterrupta ao longo de todo o ano, minimizando riscos de downtime. “Na era da Indústria 4.0, os dados são a nova mina de ouro para as organizações. Investir em infraestruturas tecnológicas é crucial, mas construir data centers próprios pode ser oneroso e ineficiente”, explica o contexto do projeto, alinhado com tendências globais.
Foco no Negócio dos Clientes
Maria Pinto, diretora-geral da Raxio em Angola, destacou em entrevista ao Expansão os benefícios do modelo adotado. “O nosso modelo de negócio é neutro em termos tecnológicos: acolhemos todos os clientes. A escolha tem a ver com organizações que já possuem infraestrutura tecnológica e precisam expandir ou implementar soluções de disaster recovery (recuperação de desastres)”, afirmou. Ela enfatizou a importância de externalizar a gestão de TI: “Se cada banco construísse o seu próprio data center, teríamos uma cidade estrangulada de estruturas.”
Pinto também alertou para os riscos de manter data centers internos: “Manter um data center dentro da empresa pode transmitir uma falsa sensação de segurança. O foco das instituições deve ser o seu negócio, e não a gestão de servidores, que muitas vezes é relegada para segundo plano e só recebe atenção quando surge um problema. O nosso centro de dados existe justamente para que o cliente se concentre no seu negócio, enquanto nós cuidamos da infraestrutura.”
Atualmente, dezenas de empresas angolanas já estão migrando suas infraestruturas para o Raxio AO1. O processo tem sido facilitado por um planejamento detalhado, com cronogramas realistas alinhados às necessidades dos clientes. A expansão para a segunda fase dependerá do sucesso inicial, o que pode impulsionar ainda mais o ecossistema digital no país.
Impacto para o Mercado Angolano e Perspectivas Futuras
Com a entrada do Raxio no mercado, Angola reforça a sua posição como hub tecnológico na África Austral. O setor de TIC em Angola tem crescido impulsionado pela digitalização de serviços bancários, e-commerce e administração pública, mas ainda enfrenta desafios como conectividade limitada e custos elevados de infraestrutura. Este data center neutro pode atrair investimentos estrangeiros e fomentar parcerias locais, alinhando-se às metas do Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) para a diversificação económica.
Especialistas preveem que, com a operação do Raxio AO1, mais empresas optem por soluções de colocation, reduzindo a dependência de infraestruturas obsoletas e promovendo a inovação. A inauguração no dia 30 marca não apenas o arranque de um projeto, mas o início de uma nova era para as TIC em Angola.
Fonte: Jornal Expansão