Angola voltou esta segunda-feira, 5 de maio, a ser alvo de um ataque cibernético de grandes proporções. Desta vez, a página oficial da Assembleia Nacional foi invadida por um grupo identificado como CyberTeam, que se autointitula “Exército Cibernético da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa”. A mensagem deixada no portal do Parlamento confirma a invasão, que, segundo os autores, teria sido motivada “por diversão” — uma justificação irónica para um ato com implicações gravíssimas na soberania digital do Estado angolano.

Este não é um episódio isolado. O mesmo grupo já reivindicou anteriormente ataques a instituições-chave do país, incluindo os Ministérios das Finanças e do Interior, o Instituto Nacional de Estatística (INE), o Instituto Nacional de Fomento da Sociedade da Informação (INFOSI) e o Instituto Angolano das Comunicações (INACOM), BNA e bancos comerciais. A sucessão de invasões demonstra não apenas a fragilidade dos sistemas informáticos governamentais, mas sobretudo a ausência de uma resposta institucional proporcional à gravidade do problema.

Um perigo real e crescente

O risco de que dados sensíveis de cidadãos e servidores públicos estejam a circular em mãos criminosas é mais do que provável, dada a natureza dos sistemas atacados. Ministérios e institutos técnicos guardam informações que incluem dados fiscais, bases de identidade, movimentações financeiras e padrões de comunicação interna. O facto de esses sistemas terem sido violados com aparente facilidade expõe os cidadãos a riscos de roubo de identidade, fraude bancária e extorsão.

Apesar da gravidade da situação, as autoridades angolanas continuam a falhar na comunicação transparente sobre a dimensão dos ataques, quais os dados comprometidos, e quais as medidas concretas tomadas para reforçar a segurança cibernética. A falta de pronunciamento público alimenta a especulação, reduz a confiança dos cidadãos nos serviços do Estado e dá carta branca aos cibercriminosos para continuarem a operar impunemente.

O papel das forças de segurança: ausente ou invisível?

Em um cenário de ameaças crescentes, esperava-se uma atuação visível e estratégica dos serviços de inteligência e segurança nacional, que deveriam liderar a proteção cibernética do Estado. No entanto, a atuação dos órgãos de segurança tem sido opaca, lenta e reativa, quando deveria ser preventiva e coordenada com estruturas internacionais. A ciberdefesa ainda não ocupa o lugar de destaque que merece no desenho das políticas públicas de segurança nacional.

A ausência de um centro nacional de resposta a incidentes cibernéticos com capacidade técnica e autonomia operacional é hoje uma das maiores lacunas da estratégia digital do Estado angolano. O investimento em infraestrutura de defesa cibernética, formação de quadros especializados e protocolos de resposta rápida deve ser tratado com urgência.

Diário dos Negócios: voz pioneira na denúncia do problema

Desde os primeiros sinais de vulnerabilidade digital em instituições públicas, o Diário dos Negócios tem alertado repetidamente as autoridades para o perigo de negligenciar a segurança cibernética nacional. Em várias edições, o jornal destacou a necessidade de políticas robustas, transparência nos casos de ataques, e cooperação internacional no combate ao cibercrime.

A situação vivida hoje comprova que não se trata de alarmismo, mas de uma emergência silenciosa que pode, em breve, ter custos políticos, económicos e sociais catastróficos para o país. Os sistemas públicos são, neste momento, alvos fáceis. E cada ataque bem-sucedido representa mais um passo rumo ao descrédito institucional.

Caminhos possíveis

A solução passa por:

Criar um Comando Nacional de Cibersegurança, com competências legais e operacionais para atuar em tempo real. Tornar obrigatória a auditoria cibernética anual em todas as instituições públicas.

Estabelecer parcerias estratégicas com países com experiência avançada em ciberdefesa, como Índia, Israel ou Portugal. Incluir a literacia digital e a proteção de dados como prioridade nas políticas de governação eletrónica.

Angola não pode continuar a encarar a cibersegurança como um tema técnico menor. Trata-se de uma questão de soberania e de proteção da dignidade dos seus cidadãos.

Redação: Diário dos Negócios

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