O Banco Económico (BE), antigo Banco Espírito Santo Angola, atravessa um período de instabilidade devido a sucessivas falhas na transparência e consistência das suas demonstrações financeiras. Nos últimos três anos, os relatórios anuais da instituição receberam “opinião adversa” da auditora independente Deloitte, um sinal grave que levanta sérias dúvidas sobre a fiabilidade dos dados contabilísticos apresentados.

Irregularidades nos relatórios financeiros

Desde 2022, os relatórios do BE têm sido alvo de críticas severas. No exercício de 2022, a Deloitte identificou um activo de 260 mil milhões de kwanzas (cerca de 393,85 milhões de dólares) registado indevidamente, referente a perdas por imparidade que não foram contabilizadas de imediato. Apesar de o Banco Nacional de Angola (BNA) ter aprovado o Plano de Recapitalização e Reestruturação, que permitiu transferir 52 mil milhões de kwanzas para outras reservas, o auditor considera que os 208 mil milhões de kwanzas remanescentes continuam a supervalorizar o balanço patrimonial, violando as Normas Internacionais de Relatório Financeiro (IFRS).

Segundo a Deloitte, as IFRS não permitem classificar perdas como activos, uma vez que não geram benefícios económicos futuros. Esta prática, embora autorizada pelo BNA, configura uma distorção material nos resultados financeiros do banco.

Problemas com activos imobiliários

Em 2023, a auditoria voltou a emitir uma “opinião adversa” devido a irregularidades numa transação imobiliária. Os activos não correntes, avaliados em 6,01 mil milhões de kwanzas (cerca de 7,25 milhões de dólares), foram precificados com base em imóveis similares, sem avaliações independentes. A falta de detalhes sobre o estado de conservação, contratos de arrendamento ou possíveis ônus gerou incertezas quanto ao valor real desses activos.

“Não nos é possível concluir sobre os efeitos destas questões nas demonstrações financeiras consolidadas do Banco em 31 de Dezembro de 2023”, afirmou a Deloitte no seu relatório, subscrito por José António Mendes Garcia Barata, presidente da Deloitte Angola.

Mudança na liderança não resolve problemas

Em 2024, o BE passou por uma reestruturação na sua Comissão Executiva, com a saída de Victor Cardoso, que deixou a presidência para assumir um cargo de assessor no Banco Angolano de Investimentos (BAI). Jorge Pereira Ramos, até então administrador executivo, foi nomeado novo presidente. Contudo, a mudança de liderança não trouxe melhorias significativas. O relatório de 2024 apontou um prejuízo de 3,3 mil milhões de kwanzas, uma redução de 99% em relação aos 297,8 mil milhões de 2023, mas os auditores continuaram a detectar irregularidades, especialmente na contabilização de imóveis e activos ligados à sociedade Investimentos e Participações, S.A (INVESTPAR).

A Deloitte reforçou que as demonstrações financeiras do BE não cumprem integralmente as IFRS, comprometendo a transparência e a confiança no desempenho financeiro da instituição.

Fonte: O Telegrama

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