Reação da Federação de Consumidores
Mas a Federação Angolana de Associações de Consumidores (FAAC) não entra nesse discurso e considera esse instrutivo do Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos como, “um atentado à dignidade dos utentes”. “O utente não deve ser penalizado numa circunstância dessas”, resumiu André Feijó, secretário-geral adjunto da FAAC.
“O cidadão consumidor nada tem a ver com isso, ou melhor, não deve ser penalizado por causa de problemas internos de uma instituição que tem a obrigação de servi-lo. Havendo problemas, então devem entrar em cena os órgão de inspecção e punir os prevaricadores”, corrobora Lourenço Chipa, professor reformado, residente em Viana.
Análise da Associação Industrial Angolana
O vice-presidente da Associação Industrial Angolana (AIA), Elizeu Gaspar, também comentou o sucedido, estimando, porém, que o encerramento temporário do Cartório de Viana, pode resultar da gravidade do problema detectado.
“É possível que seja um problema grave que afecte, por exemplo, o sistema informático, sendo necessário fazer uma reavaliação profunda”. Aliás, disse, “se um ‘haker’ penetrar no sistema pode ‘varrer’ muito dinheiro, resultante de contratos bancários, ou de outros serviços. E agora como tudo está em rede, pode ser que tenha saído muito dinheiro com vários contratos, sendo por isso que a solução encontrada só tinha de ser mesmo o encerramento do notário em causa para não contagiar outras instituições”, afirmou o ‘número 2’ da AIA.
Suspeitas de Fraude Financeira
Outras fontes paralelas ouvidas a propósito por este jornal suspeitam que o encerramento temporário do Cartório de Viana tenha a ver com o sumisso de quase um milhão de dólares. “Parece que alguns destes funcionários forjaram um contrato de um milhão de dólares e o dinheiro saiu mesmo. Então, a investigação chegou à conclusão de que a dimensão da trama é maior e daí a fechar o serviço notarial foi mesmo só um passo”, prejudicando, claramente o cidadão.
Chamado à Fiscalização Reforçada
Os mesmos contactos instaram os órgãos de inspecção e fiscalização a redobrarem o seu trabalho, “porque agora, anda por aí um ‘safe-se quem puder’ perigoso”. Ou seja, “há funcionários destes cartórios que estão há muito a enriquecer a custa de actos de extorsão a estrangeiros, e não só, colocando em descrédito total esse serviço público”.
E deram exemplo do da Loja dos Registos da Samba’, onde “alguns jovens funcionários tinham as contas bancárias sempre recheadas, com uma facturação que podia chegar a dois milhões de kwanzas semanais”. “Com a fartura financeira, construíram edifícios em Luanda. Porém, muitos deles, ao saberem da aproximação da inspecção, porque o crime tem ‘pernas curtas’, terão já fugido para a França e outros países europeus, abandonando simplesmente o emprego”.
Por isso, acham que a luta contra a corrupção em Angola deve ser uma tarefa diária de todos os cidadãos de boa-fé que devem participar com a denúncia dessa prática que corrói a nossa sociedade. JPA