Onde aplicar o dinheiro é uma das questões que surge na hora de poupar ou investir. O cocktail formado por rendimentos baixos e preços altos, falta de produtos de poupança e taxas de retorno negativas penalizam a poupança das famílias angolanas. Muitas preferem guardar o dinheiro em casa ou recorrer à “kixikila” como alternativa de poupança e crédito bancário.

Angola ainda dispõe de poucos instrumentos de poupança disponíveis para as famílias e investidores, praticamente só há dois produtos disponíveis, os títulos de dívida pública e os depósitos a prazo, cujas taxas de juro reais, descontada a inflação, são negativas. Recordar que a taxa de inflação homóloga foi de 29,2% em Outubro, já em fase descendente, depois de ter atingindo um máximo de 31,1% em Julho. Quanto ao mercado de capitais, as movimentações são essencialmente títulos de dívida pública, que representam mais de 90% do total de transacções na bolsa, onde o mercado de acções representa menos de 2% das negociações. Apesar de terem rentabilidades mais altas que os depósitos a prazo, o mercado de acções é pouco expressivo e com um fraco número de negociações.

Assim, os juros baixos dos depósitos, alta inflação e contínua perda de poder de compra constituem um cocktail que desmotiva a poupança e que atira as famílias muitas vezes para negócios informais ou para bancos fora do País.

Basicamente, a poupança é a parte do rendimento que não é gasta no período em que foi recebido e é guardada para ser utilizada num momento futuro. Só que em países em desenvolvimento com baixos salários e preços altos, como é o caso de Angola, a maior parte do rendimento é gasta em consumo.

Até o mês de Outubro, para um depósito a prazo de 90 dias, em média, os bancos comerciais remuneravam apenas 7,3%, enquanto até 180 dias a taxa era de 10,2% e, para os depósitos a mais de 1 ano, a taxa situava-se em 11,9%, segundo constatou o Expansão, com base nas estatísticas monetárias do e financeiras do Banco Nacional de Angola.

Já as taxas de remuneração das aplicações em dívida titulada são maiores em relação às taxas que os bancos pagam pelos depósitos a prazo dos seus clientes, o que acaba por fazer com que o Estado rivalize e supere a banca na captura das poupanças das famílias angolanas. Isto deve-se também à necessidade de financiamento interno que o Estado tem para fazer face às despesas programas no Orçamento Geral de Estado, uma vez que o Estado costuma mais do que aquilo que consegue arrecadar num cenário que deverá manter-se pelo menos até 2030. Entretanto, durante o ano 2024, a taxa dos Bilhetes de Tesouro/ano (títulos públicos de curto prazo) com maturidades a 1 ano, atingiu um máximo de 19,0% praticamente o dobro das taxas dos depósitos, ao passo que as obrigações de tesouros não reajustáveis (títulos públicos de médio e longo prazo) chegaram a atingir os 24% a 4 anos. Ainda assim, estas taxas estão abaixo da taxa de inflação que chegou a atingir 30,1% a nível nacional e 42,8% em Luanda.

Tal como explica o economista chefe da Eaglestone, Tiago Dionísio, as taxas de juros reais negativas significam que o nível de preços dos bens está a crescer mais rapidamente que a remuneração que as pessoas recebem nos bancos pelos seus depósitos, por exemplo, e isto poderá levar os consumidores a anteciparem a compra de certos bens e, com isso, terem menos dinheiro para aplicarem as suas poupanças.

Não há ganhos reais

Para o economista e consultor financeiro Alberto Vunge, não há muita gente ou negócios a realizarem ganhos reais. “Estamos numa fase que, de tão degradada que está a economia, contentamo-nos com ganhos nominais ou aparentes”, disse.

“A verdade é que não há muitas alternativas para as famílias realizarem ganhos reais. Mas as incertezas quanto ao futuro estão presentes, daí que as famílias continuem a poupar para transferirem algum rendimento para a frente. Claro que a evolução da inflação representa um desafio para este objectivo na medida em que corrói as poupanças das famílias”, explicou. Expansão

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