A empresária Isabel dos Santos, mesmo com as suas participações indiretas no Banco de Investimento e Crédito (BIC) sob a guarda da justiça, continua a destacar-se como a figura que mais lucraria com os dividendos da banca angolana, caso pudesse receber os valores a que tem direito. Segundo dados apurados, cerca de 41% dos dividendos relativos aos lucros de 2024 serão distribuídos para o exterior, com destaque para empresas e acionistas estrangeiros.

Isabel dos Santos: Lucros na Sombra

Isabel dos Santos, através das suas participações indiretas na Sociedade de Participações Financeiras (25% do BIC) e na Finisantoro Holding Limited (17,5%), teria direito a 8,8 mil milhões de kwanzas em dividendos. Contudo, devido a restrições judiciais, esses valores permanecem bloqueados. Recorda-se que a empresária, que entre 2016 e 2019 foi a personalidade que mais lucrou com a banca angolana, enfrenta acusações de 11 crimes relacionados com a sua gestão na Sonangol entre 2016 e 2017. Desde 2018, Isabel dos Santos encontra-se fora do país, sob um mandado de detenção internacional emitido pela Procuradoria-Geral da República.

Os Maiores Beneficiários Individuais

Entre os acionistas com participações diretas, Lígia Madaleno, presidente do conselho executivo e acionista maioritária do Banco Internacional de Reconstrução (BIR), com 56,4% das ações, lidera a lista, devendo receber 6,7 mil milhões de kwanzas, um aumento de 1,8 mil milhões face ao ano anterior. Na segunda posição, Rafael Kaposo, CEO do Banco de Crédito do Sul (BCS), arrecadará 6,4 mil milhões de kwanzas, um crescimento expressivo de 4,9 mil milhões em relação a 2023.

Francisca Kamia Kapose, com 45% do BCS, fecha o pódio com 6,1 mil milhões de kwanzas, seguida por José Jaime Freitas e António Mosquito, acionistas do Caixa Angola, com 4,9 mil milhões e 4,8 mil milhões de kwanzas, respetivamente. Luís Lélis, presidente do conselho executivo do Banco Angolano de Investimentos (BAI), que aumentou a sua participação de 4,1% para 6,3% em 2024, receberá 4,3 mil milhões de kwanzas, ocupando a sexta posição.

Dividendos para o Exterior

Entre as entidades estrangeiras, o português Banco BPI, com 48,1% do Banco de Fomento Angola (BFA), lidera com 49,5 mil milhões de kwanzas em dividendos. Seguem-se o sul-africano Standard Bank (4,2 mil milhões) e o Caixa Geral de Depósitos, com 51% do Caixa Angola, que receberá 12,5 mil milhões de kwanzas. Outras empresas estrangeiras, como a Sociedade de Participações Financeiras e a Finisantoro Holding Limited, de Isabel dos Santos, com sede em Malta, e a Telesgest B.V., de Fernando Teles, com sede na Holanda, também figuram na lista.

Contexto e Transparência

A distribuição de dividendos reflete a robustez do setor bancário angolano, mas também levanta questões sobre a concentração de lucros em mãos de poucos e a saída significativa de capitais para o exterior. Este cenário ocorre num contexto em que o país enfrenta desafios económicos e judiciais, com figuras como Isabel dos Santos envolvidas em processos que continuam a gerar debate.

Fonte: Jornal Expansão 

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