As operadoras de autocarros de Luanda sofreram prejuízos avaliados em cerca de 180 milhões de kwanzas devido à vandalização de veículos e à suspensão de actividades durante a paralisação dos taxistas, entre 28 e 30 de Julho. A informação foi avançada pela Associação Nacional das Empresas de Transporte Rodoviário de Passageiros (TRANSCOL), que alerta para a possibilidade de escassez de autocarros nos próximos dias, afectando a mobilidade urbana.
De acordo com o presidente da TRANSCOL, Carlos Carneiro, pelo menos 25 autocarros foram vandalizados, com destaque para as operadoras TCUL, Macon e Cidrália, que registaram danos em 23 viaturas (10 da TCUL, oito da Macon e cinco da Cidrália). A suspensão dos serviços, motivada por questões de segurança, agravou as perdas financeiras. “Os dados são provisórios e resultam de avaliações das operadoras, que reportámos ao Governo, nosso parceiro”, explicou Carneiro.
Impacto nas Operadoras
A TCUL, uma das mais afectadas, deixou de transportar mais de 500 mil passageiros, registando prejuízos de cerca de 48 milhões de kwanzas. André Gomes, porta-voz da empresa, lamentou os danos, que incluíram vidros partidos, um dos alvos principais dos actos de vandalismo. Na Cidrália, Felipe Gonga, responsável pelas operações, revelou que quatro autocarros urbanos e um interprovincial tiveram os vidros danificados, afectando a operação diária de 15 viaturas que transportam, em média, mil passageiros.
Os custos de reparação são elevados. Segundo a TRANSCOL, o vidro dianteiro de um autocarro custa entre 700 e 750 mil kwanzas, os laterais entre 325 e 350 mil kwanzas, e os traseiros cerca de 600 mil kwanzas. A retoma das actividades, iniciada a 30 de Julho, foi marcada por receios, com as operadoras a operarem com cautela.
Pedido de Apoio ao Governo
Na sequência dos prejuízos, a TRANSCOL solicita uma verba emergencial de 8 mil milhões de kwanzas para apoiar as operadoras, que enfrentam dificuldades financeiras desde o fim dos subsídios às tarifas dos autocarros. Apesar das actualizações recentes do preço dos bilhetes, de 50 para 150 kwanzas em Maio de 2024 e para 200 kwanzas em Julho, as receitas caíram entre 30% e 60%. Actualmente, apenas 250 a 300 dos 879 autocarros disponíveis circulam diariamente.
Carlos Carneiro destacou que o preço real da tarifa, considerando os custos com combustível, salários e manutenção, seria de 700 kwanzas, valor considerado “inviável” para a população. Por isso, a associação apela à reintrodução de subsídios governamentais aos transportes públicos urbanos.
Na segunda-feira, 04 de Agosto, o Governo anunciou uma linha de financiamento de 50 mil milhões de kwanzas para apoiar empresas afectadas pela vandalização e pilhagem durante os protestos. A TRANSCOL espera que o montante solicitado esteja incluído neste pacote.
Contexto da Paralisação
A paralisação, convocada pela Associação Nacional de Taxistas de Angola (ANATA), tinha como objectivo protestar contra o aumento do preço dos combustíveis, a falta de diálogo com as autoridades, as condições precárias de trabalho e a necessidade de formalização da actividade. Contudo, o movimento, inicialmente pacífico, descambou numa revolta popular que começou em Luanda e se alastrou às províncias de Icolo e Bengo, Benguela, Malanje, Huíla, Bengo, Huambo e Lunda-Norte.
Além dos autocarros, a Associação das Empresas do Comércio e da Distribuição Moderna de Angola (Ecodima) reportou a vandalização de 91 estabelecimentos comerciais em Luanda e Malanje, com destaque para 72 lojas Arreiou.
Apelo à Responsabilidade
As autoridades e as associações apelam à calma e ao diálogo para evitar novos episódios de violência, que prejudicam não apenas as empresas, mas também a população que depende dos serviços de transporte público. A TRANSCOL reforça a necessidade de medidas estruturais para garantir a sustentabilidade do sector e a segurança dos passageiros.
Fonte: Valor Económico