Europeus sinalizam oportunidades de negócios numa área já sem a marca dos EUA, a da segurança alimentar, e prometem valor acrescentado no domínio agrícola. Se as consequências da saída dos americanos do projecto para mulheres já são visíveis, com pequenas produtoras sem rumo, resta saber se o CL recebe, como anunciado, largos milhões para manutenção da ferrovia e construção de silos.

Com os Estados Unidos da América ainda em reflexão quanto à continuidade no desenvolvimento do Corredor do Lobito, d epois dos investimentos em vários segmentos, a União Europeia (UE) anunciou, na última semana, 50 milhões de euros para cadeias de valor agrícola, de onde saíram os americanos com a chegada de Trump, deixando um vazio que afecta mais de 20 mil mulheres camponesas.

As senhoras, vítimas do desmantelamento da Agência Norte-americana para a Cooperação Internacional (USAID) estão inscritas no projecto Mulheres na Agricultura Angolana (WAF), que proporcionou já lições sobre técnicas de produção e diversificação de culturas.

Consumada a suspensão desta iniciativa, para a qual a USAID acenava com cinco milhões de dólares, a UE anuncia uma aposta capaz de transformar o Corredor do Lobito num “eixo de crescimento económico”, como sustentou a sua embaixadora em Angola, Rosário Bento Pais.

A diplomata teceu tais considerações no Lubango, província da Huíla, após contactos entre delegações de países da UE e o governador provincial de Benguela, Manuel José Nunes Júnior, que tem defendido um CL a funcionar como pólo de desenvolvimento, mais do que um ‘mero’ veículo ao serviço da transportação de minerais.

A segurança alimentar, justamente a meta apontada pelos americanos para as províncias do Corredor do Lobito, surge, agora, como um dos segmentos do investimento europeu. “O Corredor tem importância para o transporte global, pode impulsionar a economia e criar empregos nas províncias vizinhas”, reforçou Bento Pais, na 10.ª reunião de direcção do programa FRESAN, Fortalecimento da Resiliência e da Segurança Alimentar e Nutricional em Angola.

Em reacção, o analista Jaime Azulay assinala que a procura por diferentes parceiros para o Corredor do Lobito é uma das saídas que o País tem para não ficar exposto a consequências de mudanças políticas nos Estados Unidos da América.

“A melhoria na infra-estrutura de transporte facilita o escoamento da produção agrícola, impulsionando o comércio local e nacional”, ressalta o jornalista e jurista, antes de ter lembrado que “a entrada de diferentes parceiros impulsiona também o desenvolvimento regional”.

Jaime Azulay vinca, a propósito, que um dos pontos altos da política de relações internacionais de Angola está na diplomacia de múltiplos vectores e diversificação de parceiros.

Aguarda-se, ainda no domínio da promoção da segurança alimentar por via da cadeia do agro-negócio, agricultura e indústria, pelo projecto do Banco Mundial (BM) tendente a apoiar pequenas e medidas empresas de Benguela, Huambo, Bié e Moxico, avaliado em 300 milhões de dólares.

Das ‘órfãs’ da USAID à avaliação do banco DFC

O denominado projecto Mulheres na Agricultura Angolana, apresentado em Abril de 2024 pela ex-administradora da agora desmantelada USAID, Samantha Power, começou por beneficiar as províncias de Benguela, Huambo e Bié.

Lançado poucos dias após a publicação de um relatório das Nações Unidas que colocava milhares de angolanos na rota da insegurança alimentar aguda, foi visto como uma iniciativa a demonstrar que há mais CL para lá dos minerais da RDC e da Zâmbia.

Hoje, quase um ano depois, já com mulheres capacitadas e com alguns produtos como fruto dos primeiros passos, está tudo estagnado, como avançou ao NJ fonte da ADPP, organização que vinha monitorizando a iniciativa.

O período de paralisação apontava para três meses, o mesmo para todos os projectos ‘engavetados’ pela Administração Trump, mas já ninguém tem esperança no regresso ao campo. “Não se sabe de nada, coitadas das senhoras”, atirou a fonte.

No dia da apresentação do projecto, Samantha Power esteve à conversa com a administração do Grupo Carrinho, que deverá receber da Corporação Financeira de Desenvolvimento Internacional dos EUA (DFC) um financiamento de 150 milhões de dólares. Este montante, como já noticiou o NJ, é parte de um orçamento total de UDS 530 milhões, basicamente para uma central de silos ao longo das províncias bafejadas pelo Corredor do Lobito.

O Grupo Carrinho, que diz estar firme no apoio a produtores fam iliares, projectou uma infra-estrutura com capacidade para armazenar 120 mil toneladas de grãos, sobressaindo o milho, soja, arroz, trigo e feijão. Da mesma instituição, mas também de um banco sul-africano, o concessionário dos serviços ferroviários e logística do CL (LAR) aguarda financiamentos para operações ligadas à circulação e manutenção da linha.

Nesta altura, segundo o  NJ, os credores passam em revista toda a documentação inerente aos financiamentos. NJ

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