O enfraquecimento do domínio do dólar norte-americano, agravado por políticas da nova administração dos Estados Unidos, abriu uma “janela de oportunidade” para a internacionalização do yuan, segundo um inquérito do Instituto Monetário Internacional da Universidade Renmin, em Pequim.
De acordo com o estudo, publicado hoje, as empresas estão cada vez mais interessadas em usar a moeda chinesa para liquidações de pagamentos internacionais. Cerca de 68% das empresas inquiridas já utilizam o yuan em transacções comerciais transfronteiriças, enquanto 53% o usam em operações cambiais. A percentagem de empresas que planeiam aumentar as transacções em yuan cresceu de 21,5% no segundo trimestre de 2024 para 24% no primeiro trimestre de 2025.
Impacto da Política Norte-Americana
A volatilidade no mercado de obrigações do Tesouro dos EUA, intensificada por medidas como as “tarifas retaliatórias” anunciadas pelo Presidente Donald Trump, contribuiu para o cenário. Nos últimos meses, as tarifas dos EUA sobre produtos chineses subiram 145%, enquanto a China retaliou com um aumento de 125%. Esta guerra comercial ampliou as preocupações sobre os efeitos da dissociação económica entre os dois países.
Yang Changjiang, professor de Finanças da Universidade Renmin, destacou que, ao contrário de crises passadas, o capital global deixou de fluir para os EUA, marcando um “ponto de viragem”. Nos últimos 15 dias, a venda de obrigações do Tesouro norte-americano elevou os juros de títulos a 30 anos em meio ponto percentual.
Estratégias para o Yuan
O estudo aponta que o yuan está a ganhar terreno como activo de refúgio, além de seu papel tradicional na liquidação comercial. “Esta é uma oportunidade que temos de aproveitar”, afirmou Yang. A emissão de obrigações denominadas em yuan, conhecidas como obrigações panda, também cresceu, atingindo 950 mil milhões de yuan (cerca de 113 mil milhões de euros) em meados de abril.
No entanto, o yuan ainda enfrenta desafios. Apesar de ser a quarta moeda mais usada em pagamentos globais (4,13% em março, segundo o sistema Swift), está muito atrás do dólar, que detém 49,08% das transacções. Nas reservas mundiais de divisas, o yuan representa apenas 2,18%, contra 57,8% do dólar, de acordo com o Fundo Monetário Internacional.
Desafios e Perspectivas
Mais de 40% das empresas inquiridas relataram relutância dos parceiros comerciais em adoptar o yuan, citando barreiras como controlos de capitais, convertibilidade limitada e vulnerabilidade a factores externos. Ainda assim, Tu Yonghong, vice-director do Instituto da Universidade Renmin, prevê um sistema monetário global mais diversificado, o que poderá beneficiar o yuan.
“O panorama mundial sugere uma mudança para um sistema mais plural, e o yuan está bem posicionado para ganhar relevância”, concluiu Tu. JE
