A chuvas em Luanda têm destacado a vulnerabilidade da cidade a calamidades naturais devido a graves debilidades no domínio do saneamento básico. Além de um crescimento desordenado da população e da desestruturação dos espaços habitacionais, a ocupação dos espaços não acompanhou a construção de infraestruturas de saneamento essenciais, resultando em áreas urbanas sufocadas e transformadas em amontoados de casebres.
A falta de um sistema de drenagem eficaz tem sido apontada como uma causa crítica para as inundações. Um engenheiro civil angolano destaca que, apesar das áreas como Talatona e a centralidade Vida Pacífica serem zonas caras e consideradas de baixo risco, estas também foram afetadas, sugerindo que as falhas de drenagem são um problema sistêmico na capital.
Além disso, existe uma falta de coordenação entre os serviços de saneamento, recolha e tratamento de resíduos e águas residuais. Esta desarticulação tem origem na ausência de uma instituição pública capaz de integrar estas áreas de serviço, e os projetos de saneamento são realizados sem consideração pelas infraestruturas circundantes.
As consequências dessas deficiências são severas. A malária, em particular, tem visto um aumento significativo de casos em Luanda. As unidades hospitalares da cidade registaram um aumento do número de mortes associadas à doença, com mais de 890 mil casos de malária somente no primeiro trimestre do ano, o que representa um aumento em relação ao ano anterior. As fontes hospitalares ligam este crescimento às precárias condições de vida e à deficiente gestão do saneamento básico, incluindo o acúmulo de lixo e a formação de poças de água, que são ambientes propícios para a proliferação de mosquitos transmissores da malária.
Para mitigar estes problemas, é fundamental uma reforma profunda nas infraestruturas de drenagem e saneamento de Luanda. A requalificação do sistema de drenagem, incluindo a substituição de tubagens e a construção de bacias de retenção, é essencial.
As políticas públicas devem também se alinhar com as resoluções da ONU para a universalização dos serviços básicos e para a melhoria dos índices de desenvolvimento humano, algo que Angola ainda está muito aquém.
