A Gemcorp, empresa dona de 90% da refinaria de Cabinda deixou de merecer a confiança do Presidente da República de acordo com informações obtidas pelo portal Diário dos Negócios.
Deixou de ser bom fazer negócios com a Gemcorp e alguns parceiros já ponderam afastar-se da empresa, comentou fonte conhecedora do assunto.
De acordo com insider, a empresa cujo rosto mais visível é o do russo Atanas Bostandjiev, arrisca-se a perder chorudos contratos em Angola por estar a ser preterida pela cidade Cidade Alta. Em causa estão as actividades pouco transparentes da empresa que geram receios de varia ordem e por esta não honrar compromissos assumidos com o governo apesar de muitos incentivos que tem recebido e tolerância até para fazer negócios em vários onde não tem a mínima experiência.
Recorde que a empresa levou João Lourenço a mentir para os angolanos sobre a entrada em funcionamento da refinaria de Cabinda que contribuiria para a redução do preço dos combustíveis, que neste mês de Junho sofrearam um considerável aumento e que está na base de várias manifestações que tendem a se degenerar pelo país.
Os incumprimentos da Gemcorp, levaram o governo a orientar a Sonangol, dona de 10% da refinaria de Cabinda, o pagamento de uma factura pesada, cerca de 50 milhões USD, para travar os adiamentos sucessivos no arranque da refinaria.
Parece que a Gemcorp queria fazer o governo pagar a factura e ficar com o empreendimento, mas agora arrisca-se a perder este importante negócio, comentou um analista angolano que acompanha a “novela”.
Para o analista, se os protestos anti subida dos combustíveis aumentarem pelo país, isso vai atiçar “ainda mais” a irá da Cidade Alta contra a Gemcorp, que já entrou no projecto Refinaria com “cunha”. Recorda o analista, que a Gemcorp ganhou este contrato em 2019, após a Sonangol ter rescindido o contrato com a United Shine Ltd, por incumprimento das promessas de investimento para assegurar a implementação do projecto.
“Agora, é a própria Gemcorp que está em incumprimento só que com consequências piores”, referiu, realçando o facto de a empresa não ter mostrado até aqui capacidade financeira para a execução do projecto.
A Gemcorp pode estar já a sentir o impacto das sanções ocidentais à Rússia e entidades a si ligadas, o que faz reacender o debate sobre a necessidade de renegociação da estrutura societária da Refinaria de Cabinda, avaliada em mais de 700 milhões de dólares.
Recorde que o Presidente da República havia prometido que a Refinaria de Cabinda estaria operacional no ano 2022 e sem quaisquer custos ou compromissos futuros a Angola. Agora terá de enfrentar o alto custo político pela escolha da Gemcorp e pelas promessas não cumpridas.

LAÇOS DA GEMCORP COM A RÚSSIA. INTERESSES COMPLEXOS, LIGAÇÕES SUSPEITAS E OS SEUS FALHANÇOS
“A Bloomberg chegou a considerá-la braço armado da Rússia para o comércio”, para conquistar o continente berço.
A Gemcorp, uma empresa de investimentos focada em mercados emergentes, foi fundada em 2014 por uma equipe que incluía Atanas Bostandjiev, ex-chefe do banco estatal russo VTB Capital em Londres. Começou com um capital de USD 250 milhões fornecidos por uma empresa controlada na época por Avdolyan e seu então sócio Sergei Adoniev. O dinheiro veio da venda de Avdolyan e Adoniev de uma empresa de telecomunicações apoiada pela Rostec, um amplo conglomerado estatal de defesa cujos tanques, bombas e mísseis foram usados para atacar a Ucrânia.
Avdolyan também manteve laços com o executivo-chefe da Rostec, Sergey Chemezov, um amigo próximo de Vladimir Putin. Chemezov dividia um apartamento com o presidente russo enquanto os dois serviam na KGB soviética na Alemanha Oriental.
Em 2019, aconteceu a primeira cúpula de investimentos Rússia-África em Sochi em 2019. Nesse encontro, o Russian Export Center, apoiado pelo estado russo, anunciou que lançaria um mecanismo comercial de US$ 5 bilhões com foco na África, a ser administrado pela Gemcorp e pelos bancos estatais VEB e Sberbank.
A Gemcorp nunca foi colocada sob sanções ocidentais comenta um docente em relações internacionais, que, entretanto, sublinha que a empresa está já a pagar a factura pela sua ligação a oligarcas e ao estado mafioso russo.
Para Pedro Herulano, chama atenção o facto de a Rússia estar a tentar ampliar a sua influência em África ao mesmo tempo que a Gemcorp com fortes ligações a este estado, anuncia investimentos em vários países do continente, embora seja notório o fracasso em muitos casos. Uma parte de seus negócios em África, reflectem investimentos que recebeu de entidades russas.
Segundo o especialista, embora a empresa tenha sido fundada em Londres, ela criou outras entidades com o mesmo objectivo, mas que são geridas de forma “mais ou menos” autónoma em vários paraísos fiscais como forma de dissimular suas actividade.
Embora se apresente como fundo de investimento, a Gemcorp tem várias empresas que lhe permite ser simultaneamente gestora, intermediaria mutuante, importadora e trade.
Em Angola, a empresa sobrevive até agora graças a ligações promiscuas com governantes corruptos. Sobre o seu futuro, o especialista acredita que os factores exógenos e endógenos permitem concluir que a influencia está a acabar.
Várias foram as tentativas de ouvir a empresa, mas até a publicação desta matéria não recebemos nenhuma resposta ao questionário enviado.

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