O mercado tem 25 bancos comerciais que pouco têm contribuído para financiar a economia. Avultam reclamações dos empresários que se queixam dos juros muito elevados (cerca de 30%) “impraticáveis até”, mas sobretudo, da “insensibilidade” destes, para impulsionar o desenvolvimento com exigências “insuportáveis”.
Mesmo o Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA), criado em Julho de 2006 para atacar o ‘crescimento sustentado do país’, com foco no financiamento aos sectores da agricultura e pecuária, fundamentalmente, pouco ou em nada intervêm para cumprir os objectivos para os quais foi criado.
Filipe Pires, agricultor da província do Bié remeteu ao BDA em 2017 um projecto agropecuário avaliado em 80 milhões de kwanzas. Cansado de tanto esperar pelo crédito, com poucos recursos próprios começou a “fazer alguma coisa” no cultivo do milho e feijão, mas acha que “se nos dessem o dinheiro solicitado poderíamos aumentar a produção e criar mais emprego”.
“Fizemos tudo, ou seja, o estudo de viabilidade, gastamos dinheiro com isso, mas o BDA não diz nada até hoje. Estamos com as ‘mãos atadas’ quando já estaríamos a expandir a nossa actividade. Acho que só com uma ‘cunha’ será possível”, lamenta o agricultor que serviu por vários anos a tropa.
Samuel Muecália é outro agricultor agastado com os procedimentos bancários. A partir do Huambo, Muecália corre atrás de financiamentos já há vários anos, mas sem sucesso. E por isso concluiu que “não há interesse da parte do Governo de perceber a agricultura como factor fundamental”.
Além disso, acrescenta, os juros de 30 por cento, servem só para afugentar o tomador de crédito.
Ele avança mesmo que se os bancos não financiam a agricultura não pode haver desenvolvimento e compara com países como a Alemanha, ou a Inglaterra que investiram a fundo na agricultura e por isso “não há nesses países uma aguda agressão à natureza”, como acontece nos países como o nosso que insiste na exploração de recursos minerais como o petróleo e diamantes, “devastando o ambiente”.
Descontrolo total
Na maioria dos bancos (BFA, BIC, BAI, SOL, BNI só para falar destes) os procedimentos não fogem à regra. “Exigem uma série de documentos, mas no fim do dia não sai crédito nenhum”, insiste FF empresário do ramo da restauração, acrescentando que “muitas vezes, os nossos projectos são embargados para oferecer dinheiro aos amigos que depois destinam esse dinheiro para outros fins que nada têm a ver com os objectivos traçados: “compram carros e casas no estrangeiro. Fogem do país, sendo por isso que temos muito crédito mal parado”.
O agricultor José Monteiro, um dos primeiros a montar um aviário em Luanda, havia alertado para o facto de muitos associados que receberam financiamento para este sector terem direcionado o dinheiro para aquisição de vivendas na África do Sul e viaturas de luxo.
Porque assim acontece? “O Estado não acompanha o sector bancário. A começar pelos detentores desses bancos e funcionários, nota-se muita falta de patriotismo. Noto que boa parte destes bancos são geridos por ‘controlo remoto’ por estrangeiros, na sua maioria portugueses que não querem saber nada do desenvolvimento de Angola”, ataca um alto funcionário público.
A esta entidade também arrelia o facto de os bancos serem muito morosos no tratamento dos expedientes dos clientes, mesmo apenas nos processos de depósito e levantamento de dinheiro na conta à ordem.
“Perde-se muito tempo nos balcões. Por vezes encontramos três a quatro caixas, mas depois só uma fica a atender os clientes. É uma confusão de narizes”, acrescenta.
Daí que não se conseguem evitar as longas e penosas filas quer para os balcões e até mesmo para os multicaixas, cujo normal é ficarem sem dinheiro. Pungo a Ndongo
