As novas tarifas impostas pela Administração Trump aos produtos africanos estão a ser vistas como uma oportunidade para o continente fortalecer o seu mercado interno e reduzir a dependência externa, segundo afirmou o secretário-geral da Zona de Comércio Livre Continental Africana.
Wamkele Mene, secretário-geral da Zona de Comércio Livre Continental Africana (AfCFTA), defende que as tarifas impostas pela Administração Trump representam uma “oportunidade para África consolidar e construir um mercado que permita ao continente erguer-se economicamente pelos seus próprios pés”.
Para discutir uma resposta coordenada, Mene convocou os ministros do comércio africanos para uma reunião em Kinshasa, República Democrática do Congo, agendada para 15 de Abril.
“Acredito que o Presidente dos EUA deu-nos um sinal de alerta, e esse sinal de alerta é que devemos acelerar a nossa autossuficiência económica”, afirmou Mene, em Acra, no Gana.
Reforço do Comércio Intra-africano
Esta visão é partilhada pelo director executivo do Ecobank Transnational. Em entrevista recente à Bloomberg, Jeremy Awori defendeu que os países africanos podem minimizar o impacto das novas tarifas norte-americanas através do aumento do comércio entre si.
Segundo Awori, as medidas de Trump irão efectivamente substituir a Lei de Crescimento e Oportunidades para África (AGOA), programa que se encontra praticamente paralisado desde o início do actual mandato presidencial americano.
Através da AGOA, cerca de 30 nações africanas conseguiram desenvolver indústrias orientadas para a exportação, particularmente nos sectores têxtil e de vestuário, como foram os casos da Etiópia e do Lesoto.
Impacto Diferenciado no Continente
A aplicação das tarifas varia significativamente entre os países africanos:
- 31 países enfrentam tarifas mínimas de 10%, incluindo Etiópia, Quénia, Gana, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe
- 18 economias foram classificadas como “piores infractores” devido aos obstáculos aos produtos norte-americanos
- Lesoto enfrenta a taxa mais elevada, de 50%
- África do Sul, o maior exportador africano para os EUA, recebeu uma tarifa de 31%
Reacções Diversas dos Líderes Africanos
As respostas dos governantes africanos têm sido variadas. O Presidente do Zimbabué, Emmerson Mnangagwa, cujo país enfrenta uma tarifa de 18%, anunciou rapidamente na rede social X que “vai ordenar ao governo do Zimbabué que suspenda todas as tarifas sobre os produtos originários dos EUA” visando construir uma relação “mutuamente benéfica”.
Por outro lado, o Presidente sul-africano adoptou uma posição mais cautelosa, afirmando que não responderá “por despeito ou guiado por emoções” à tarifa aplicada ao seu país.
Angola, entretanto, optou por iniciar negociações directas com os Estados Unidos, numa abordagem bilateral para lidar com a situação.
Impacto Global das Tarifas de Trump
Mais de 50 países já contactaram a Administração norte-americana solicitando negociações sobre as tarifas, segundo revelou o conselheiro económico da Casa Branca, Kevin Hassett, que interpretou este movimento como um sinal de que a estratégia de Trump estaria a produzir resultados.
Contudo, no sector financeiro, as previsões são menos optimistas:
- O CEO da BlackRock, Larry Fink, prevê uma possível queda adicional de 20% no mercado bolsista devido à incerteza gerada
- A Goldman Sachs aumentou de 25% para 45% a probabilidade de recessão nos EUA
- O bilionário Bill Ackman, anteriormente apoiante de Trump, classificou as medidas como uma “guerra nuclear económica”
“O investimento empresarial vai parar, os consumidores vão fechar as carteiras”, alertou Ackman. “A nossa reputação junto do resto do mundo será gravemente afectada, o que levará anos e potencialmente décadas a reabilitar.”
Escalada Tarifária com a China
A situação agravou-se quando Trump aplicou tarifas de 104% à China, após Pequim ter imposto taxas de 84% como retaliação pela tarifa inicial de 34% anunciada a 2 de Abril, data que a administração americana denominou “Dia da Libertação”.
Estas medidas provocaram fortes quedas nas bolsas mundiais, com os mercados europeus e asiáticos a registarem perdas significativas que se prolongaram por vários dias. Expansão